domingo, 18 de março de 2012

Número de evangélicos cresce em toda a América Latina.

As igrejas evangélicas, com forte papel social, multiplicam-se no Brasil e na América Central, ameaçando a tradicional hegemonia católica, afirma o jornalista Carlos Cano, em reportagem publicada no Jornal El País.
Não existem estatísticas consolidadas, mas em El Salvador, de acordo com pesquisa recente realizada pelo Iudop, o instituto independente da Universidade Centro Americana (UCA), dos jesuítas, os 16% da população que se declaravam protestantes em 1988 são hoje mais de 38%. E nos demais países do continente, com exceção do México, pelo menos uma em cada dez pessoas é protestante. Há casos, como na Guatemala, em que se prevê que será majoritariamente evangélico em breve.
Embora esta tendência seja alta na América Central, há os casos em que os dados falam por si, como no sul do Panamá. O número de protestantes no Brasil foi sempre inferior a 5% até 1960. Mas durante os anos 90 essa proporção subiu de 9% para 15,4% em relação à população total. E agora, com cerca de 30 milhões de evangélicos, os brasileiros competem com a Alemanha, a África do Sul e a Nigéria pelo terceiro lugar na escala dos países com mais protestantes no mundo, hoje ainda liderada pelos Estados Unidos e o Reino Unido.
 O protestantismo histórico, seja o de Lutero, de Calvino ou o anglicanismo, sempre foi minoria na América colonial, até inícios do século XX, com as ondas de reavivamento espiritual e a expansão das igrejas pentecostais, que começaram a enraizar-se. Mas - indagou o jornalista - o que deve ter gerado uma mudança tão significativa num continente que durante séculos foi esmagadoramente católico?
Samuel Rodrigues, chefe da NHCLC, a maior organização hispano-evangélica nos EUA, apresenta três motivos: o primeiro, é que para se tornar evangélico "não precisa mudar sua cultura, porque o Evangelho pode ir com salsa ou mariachi"; o segundo, a Igreja Evangélica propõe "uma relação com Deus, sem a burocracia religiosa"; ela manifestou-se contra ditaduras, com vistas a "uma religião da liberdade".
O antropólogo salvadorenho Carlos Lara disse que em seu país a ascensão do protestantismo "tem a ver com a guerra" e, embora apenas em parte, com uma certa reação "não-política à teologia da libertação". Foi essencial, contudo, a mudança sociocultural ocorrida, analisou.
Outros espaços de atuação evangélica é seu papel social nos centros de reabilitação de drogas, no serviço de apoio nas prisões e nas escolas, e não apenas em ações de grande escala. Lara destacou que as igrejas evangélicas "funcionam como micro-sociedades em que os níveis de ajuda mútua são muito fortes."
Alguns têm até atribuído ao protestantismo um efeito elevador. Mas o antropólogo americano David Stoll, autor do premonitório ensaio "A América Latina está se tornando protestante?", embora seja cético pondera que "passar quatro noites na igreja, em vez de bêbado na rua, melhora a nutrição das crianças e promove papéis familiares mais adequados. Mas não se pode demonstrar que se tornar evangélico melhore sua condição social".
Diante da perda de fiéis, Crisóforo Dominguez, da Conferência Episcopal Latino-Americana (Celam), diz que "mais que um erro, a Igreja Católica está cometendo um pecado de omissão". Quando indagado pela visita de Bento XVI ao Brasil em 2007 - interpretada então como uma forma de frear as conversões aos evangélicos, "a opinião dos estudiosos consultados pelo El Pais é unânime: não serviu de nada".
Samuel Rodrigues não tem dúvidas de que até o final do século o continente será "essencialmente evangélico". Mas nem todos têm essa visão com tanta clareza. O teólogo espanhol e professor em Georgetown (Washington), José Casanova, observa que "as projeções não estão se realizando". E o sociólogo Antônio Pierucci afirma que "havia muitos católicos dispostos a abraçar uma religião mais exigente em termos de comportamento e dedicação. Inclusive com o dinheiro. Mas não são todos", diz ele, "e é o que marca o teto".
Projeções estatísticas de lado, ninguém atribui demasiada importância às consequências. Samuel Rodrigues acredita que "os valores (evangélicos e católicos) são os mesmos". Tanto que os compara com "a Pepsi e a Coca-Cola". Antonio Pierucci, entretanto, descartou uma mudança cultural: "O grande problema é que os evangélicos proíbem o álcool, por isso, após um casamento, bebem água ou suco de frutas. Você sabe quanto tempo dura uma festa dessas?", pergunta ironicamente.
O que parece claro é que a visão evangélica reserva às mulheres um papel de maior protagonismo social. "Isso é muito importante," afirma José Casanova, "não tanto pelos pastores - que nas igrejas protestantes podem ser mulheres - mas pela clientela feminina, que contraria o machismo".
Há também alguns que desenham uma americanização da cultura, mas José Casanova constata que, em qualquer caso, a influência será bidirecional. "Nos EUA, a longo prazo, haverá um deslocamento pró-democracia do voto hispânico evangélico".
Outro efeito do auge do protestantismo, segundo José Casanova, é a "renovação" católica: no Brasil, os carismáticos - com as práticas cerimoniais semelhantes aos de alguns evangélicos - representam mais de 20%.
Samuel Rodrigues aponta inclusive para a política: "Muitos líderes de sucesso falam de redenção e de Jesus". Até "a fraseologia de Hugo Chávez é evangélica", analisa. E o Twitter parece lhe dar razão. Após abrir o túmulo de Bolívar, o presidente venezuelano twitteou: "Meu Deus, meu Deus. Cristo meu, Jesus Cristo Nosso. Enquanto eu orava em silêncio, vendo aqueles ossos, eu pensei em você".


 


 

Um comentário:

  1. Pregador do Evangelho - Ministério Fogo Sobre as Nações http://prgenisvaldosantos.blogspot.com.br/

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